quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Trabalhador de um Nordeste

Me vejo diante tudo
Diante o mundo
Submissa à um sistema
Alienação
Exploração
E massacre
De um mundo tão...
Que não consigo classifica-lo humanamente.
"Trabalho" mais de oito horas por dia
E quando chego em casa, meu irmão me pergunta:
-Tudo bem, querida?
E penso
É meu irmão
Não posso mentir
Mas pode ser que ele me achar uma louca
Ou no mínimo mau humorada.
Mas como posso dizer a ele que sou feliz?
Ou que estou feliz?
Eu vivo num mundo de fantasias
Em que tudo é uma grande mentira
Ou melhor
Um mundo em que a verdade pouco é dita
Onde é preciso a falta de dignidade
Pra garantir o pão de cada dia
Onde vejo meu amigo José
Que passa dia e noite
Com a mulher e os filhos
Cortando cana,
Naquele canavial de um dos "dono do Estado"
Que felicidade é essa que posso sentir?
Qual felicidade falarei pra meu irmão?
De um mundo de drogas
De loucura
De fome.
Só tenho vontade de gritar
Lutar contra tudo isso
E pelos meus.
E só de pensar
Que nesse momento
Enquanto escrevo essas linhas
Muitos trabalham
Pra manter meu conforto.
Como posso ser feliz pensando
Que enquanto eu durmo num lugar quente e confortável
Famílias passam uma escura e fria noite com a "foice" nas mãos cortando cana no interior do Nordeste pra nos sustentar?
Eu não posso ser feliz assim
Enquanto nossas diferenças forem de classes
Enquanto enxergar
Irmãos que pedem esmolas nas avenidas do país
Patrão que explora trabalhador
Menino que assalta no sinal
Garota que se prostitui
Minha mãe em desespero
De como vai fazer a feira esse mês.

Quando nossas diferenças
Forem apenas a cor da pele
O jeito de vestir
E se eu prefiro o Rock e você o Jazz
Ai nós poderemos discutir felicidade.

1 comentário:

  1. Boa colocação em versos, sobre luta de classes;desigualdade social! Muito bem...

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